A manhã estava fria e ela não queria sair da cama. Deixou-se levar pelo sono já meio acordada, nem sonhos havia nesse dormitar manso que cobre os olhos nas manhãs em que não se acorda de supetão. Ajeitou melhor a coberta embaixo do queixo. Que prazer no gesto de não expulsá-la de cima. Era sábado. Os pensamentos funcionavam pouco, mas pensava. Sabia que se entregasse cegamente sua consciência a esse sono aparentemente inofensivo, ele poderia roubar-lhe em menos de cinco minutos uma hora inteira ou até mais. Do cochilo simples ao dormir a solto basta uma piscada. Mas ela era experiente, sabia negociar bem com seu velho amigo, sono, esses intervalos e saia no lucro. Os puros pensamentos que estava tendo já faziam o tratante acalmar-se e pedir menos tempo. Enfim, o sono recolheu-se com seus préstimos e negociatas, voltou para dentro de algum lugar e foi dormir sozinho. Ela jogou o cobertor para o alto e levantou-se.