Durval não teve tempo de responder ao professor de Biologia. Logo depois de dizer que estava vindo até a casa de Durval, Botelho desligou o telefone.
Durval ficou ainda alguns segundos com o fone na orelha ouvindo o silêncio, catatônico. Lentamente pousou o fone no gancho e voltou para o sofá. Os pensamentos simplesmente não se formavam em sua mente. Parecia que o cérebro havia abandonado a caixa craniana. Olhou em volta do sofá. Onde estava a bengala?
— Joana?
— Pois não, seu Durval? — Gritou a empregada da cozinha.
— Você viu minha bengala?
— Não vi, seu Durval. Não está apoiada na mesinha aí da sala?
Se o raio da bengala estive na mesinha na sua frente ele teria visto. Ora essa!
Olhou para o relógio de parede: nove horas da noite. Dolores havia sumido há mais de quatro horas. Onde estaria a pobre mulher? E Botelho estava a caminho. Durval não confiava mais no amigo professor de Biologia. Poderia ser ele mesmo o assassino. E se fosse, poderia estar vindo até sua casa para acabar com sua vida, como já havia tentado fazer quando empurrou Durval do barranco dentro do carro. E se Botelho fosse o assassino, teria sido ele também quem sequestrara Dolores. Mas por que teria levado Dolores e só agora voltado para pegar Durval?
— Que fazer? — sussurrou Durval com seus botões. — Que fazer?
Ligar para a polícia não adiantaria nada, já que o delegado Moreira estava morto. Nem a própria polícia estava sabendo lidar com aquele caso.
Durval estremeceu no sofá quando a campainha tocou.
Joana passou pelo corredor gingando seus 130 quilos e foi abrir a porta da frente.
Botelho entrou quase atropelando a mulher e foi direto até Durval no sofá. Com o susto, Durval levantou os dois braços para proteger-se.
— Durval, meu velho. Você precisa vir comigo agora!
— Do que diabos está falando?! — gritou Durval.
— Estou falando do assassino, amigo! Do assassino!
Durval sentiu novamente o coração palpitar. Seus olhos se encheram de lágrimas e ele suspirou fundo.
— Acho que eles sequestraram a Dolores — disse Durval quase chorando.
— Então já são quatro — disse Botelho.
— Quatro?
— O cadáver encontrado na sua cozinha, o delegado Moreira, meu caseiro, e agora Dolores.
— O Josenildo sumiu?
— Não aparece há três dias. Falei com a mulher dele e ela disse que não voltou para casa desde terça-feira.
— Precisamos avisar a polícia sobre esses desaparecimentos.
— Você enlouqueceu? Podem ter sido justamente eles que sequestraram Dolores e o Josenildo!
— A polícia?
— Não confie em ninguém, meu velho.
— Devo confiar em você, imagino.
— Você não precisa confiar em mim. Quero que veja com seus próprios olhos.
— Quer que eu veja o que? Dá última vez que dei ouvidos a você acabei preso. Aliás como você sabia que o cadáver estava na floresta? E o que ele estava fazendo dentro de um caixão de metal?
— Venha comigo e vou responder todas as suas perguntas. Não podemos ficar aqui.
— Aonde vamos?
— Ao necrotério da cidade.
CONTINUA…