O assassino aproximava-se da vítima sorrateiramente. Caminhava pelo quarto escondido nas sombras, estava decidido. Segurava o machado com as duas mãos, de lado em relação ao corpo, assim se a vítima percebesse sua aproximação ele teria tempo de desferir um golpe rápido. A vítima estava sentada, de costas com a cabeça baixa, parecia estar lendo alguma coisa. Aos poucos, o assassino foi levantando o machado. Daria um golpe certeiro bem no centro da cabeça. Estava a poucos centímetros da vítima agora. Quase dava para sentir seu cheiro. Nenhum barulho nesse momento. Foi então que ele viu de relance. A vítima estava lendo. Ele viu de relance. Sem querer, ele leu. Mas leu de relance. Algumas palavras apenas. Leu sorrateiro de um golpe rápido. Ele estava lendo. A vítima. Sentada lendo. Ele estava decidido. Só algumas palavras, mas sempre lendo. Sem parar. Eram palavras de relance, mas eram para sempre. Agora eram palavras. Apenas palavras, mas ele lia. Ele viu de relance que estava preso. Preso nas palavras que lia.
Extraordinário.
Assassinos clássdicos estão sempre à espreita das vítimas, preparando para desferir coup de grâce (golpe de misericódia) no momento mais oportuno.
É um ótimo esquema predador-presa.
Cleber Fernandes