O alarme havia disparado.
Durval estava boquiaberto ouvindo o relato de Heitor, o ex-capitão do exército que adentrara ilicitamente nos laboratórios onde Botelho havia trabalhado em algum tipo de experiência secreta que envolvia um homem com chifres.
Durval pensou no porquê Heitor inventaria uma história mirabolante como aquela se não fosse verdade. O que ganharia com isso? Por outro lado, Durval conhecia Botelho há três décadas. Se devia escolher alguém em quem confiar, seria no amigo professor. Mas também sabia das estranhezas e mistérios de Botelho. Como quando ele havia desaparecido de Santa Tereza por quase cinco anos. Nem a polícia fora capaz de encontrar alguma pista de seu paradeiro. Por fim, Botelho retornara dizendo simplesmente que havia ido trabalhar em outro estado. Esquivava-se de detalhes e relutava em falar sobre o assunto. Aquele evento chegou a estremecer a amizade dos dois. A partir de então, nunca mais tiveram a estima e a camaradagem que desfrutaram na juventude.
— O som do alarme era estridente, parecia penetrar pelos ouvidos, ir até o cérebro e chacoalhar os miolos lá dentro — continuou Heitor.
“Olhei para a porta do laboratório e vi o Segundo Tenente De Matos correndo em minha direção. Ele disse que Gouveia havia fugido pelas escadas quando o alarme soou. Realmente um idiota completo. Era evidente que haveria soldados vindo pelas escadas.
“Estávamos no quinto subsolo, não havia como pular janelas ou nos esgueirar para fora do laboratório. Se nos escondêssemos seriamos encontrados, se fugíssemos, seríamos capturados. Naquela situação o melhor a fazer era esperar pela prisão e quem sabe uma expulsão das Forças Armadas. Isso era o melhor a fazer, mas não foi o que eu fiz. Se havia uma chance de pelo menos não sermos presos em flagrante, isso já seria alguma coisa.
“Subi em uma das mesas com instrumentos cirúrgicos tomando o cuidado para não derrubar nada e pedi para De Matos me ajudar a alcançar uma das estruturas de aço que desciam do teto com monitores e painéis. Quem sabe pudéssemos nos esconder em cima daquela coisa. Parecia ser firme o suficiente para aguentar nosso peso. Segurei com as duas mãos na borda de metal que sustentava os painéis e ergui o corpo me apoiando em De Matos de modo a conseguir apoiar um dos pés na barra de ferro que atravessava a estrutura por baixo. Com um impulso alcancei uma das reentrâncias do suporte maior que vinha do teto e me enfiei no vão entre a borda do suporte e a estrutura central. O espaço devia ter menos de quarenta centímetros de largura, mas me espremi deitado de lado. Um parafuso ou alguma coisa pontuda de metal estava pressionando minha nuca. Se alguém olhasse para cima poderia me ver. Mas era um risco que precisávamos correr. Pelo menos havia uma chance. De Matos poderia se esconder no segundo suporte que ficava paralelo ao meu, mas notei que ele havia se afastado na direção de uma das estantes laterais.
“O alarme continuava soando esganiçado quando um pelotão de soldados invadiu o laboratório”.