Sem cura
– Não há cura.
O medico disse com tanta convicção que decidi não responder. Seria perda de tempo. Limitei-me a agradecer e sair calado.
Na rua, caminhei por horas. Não queria voltar para casa e encontrar Júlia. A garoa fina de maio começou a cair e o vento frio me fez fechar o casaco. Não me dei ao trabalho de limpar as gotas de chuva nos óculos, conhecia bem o caminho de volta. Quanto mais demorasse para chegar em casa, mais difícil seria.
A porta da casa estava aberta. Entrei e vi Júlia caída no chão da sala. O vento balançava a gola vermelha de sua blusa para frente a para trás. Fui até o telefone e liguei para a ambulância mesmo sabendo que ela já estava morta.
Eu estava alucinando. Júlia tinha morrido há mais de seis anos. Mas saber isso não resolvia nada. A realidade da loucura não depende das lucubrações da lógica. Vai sozinha e chega aonde quer, mesmo ouvindo as suplicas da razão. Eu sabia que minha loucura não tinha cura.
Quando a ambulância chegou, permaneci quieto, sentado no sofá olhando para o sangue que começava a coagular na poça ao lado do corpo. Era vermelho escuro assim como a blusa dela.
 

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