Cap. 20: Treze por Nove

Cadaver na Cozinha 20
Durval recobrou os sentidos lentamente. Tudo era uma mistura confusa de imagens e sons. Uma luz forte bateu intermitente em seus olhos. Foi e voltou. A luz chegava a doer no fundo da cabeça. E havia um homem careca debruçado sobre ele. Procurou manter a calma, mas sentiu o coração acelerando e a respiração ficando mais e mais curta. Tentou desvencilhar-se de quem quer que fosse e sair correndo daquela situação, mas as mãos do homem seguraram seus braços.
               — Calma, senhor Durval.
                Durval quis falar, mas a boca estava tão seca que parecia colada. Viu Joana ao lado do paramédico e conseguiu balbuciar:
               — Água.
                Joana saiu correndo e em segundos estava de volta com um copo de água.
                Aos poucos foi voltando do desmaio. Estava deitado no sofá da sala com a camisa aberta. À sua volta dois paramédicos, o careca e uma jovem de óculos. Os dois estavam vestidos com macacões azuis com riscos vermelhos.
               — Minha mulher. Onde ela está?
                O paramédico olhou para Joana.
               — Ela ainda não voltou, seu Durval.
                Durval sentiu novamente o coração bater mais rápido.
               — Senhor Durval — disse o paramédico. — O senhor teve uma crise hipertensiva, um aumento brusco da pressão. O senhor toma algum remédio para controlar a pressão arterial?
               — Só tomo Propanolol desde que fiz uma ponte de safena.
               — Certo. É um anti hipertensivo. O senhor está bem agora. A pressão está em treze por nove. Ainda um pouco alta, mas não representa perigo. O ideal é que o senhor marque uma consulta com o seu cardiologista o quanto antes.
               — Certo. Vou fazer isso.
               — Qualquer coisa pode ligar para o serviço de emergência a qualquer hora — disse a jovem de óculos.
               — Está bem. Obrigado. Obrigado.
Joana acompanhou os dois até a porta e voltou.
               — Quer alguma coisa, seu Durval?
               — Quero a minha mulher.
               — Onde, benza Deus, será que ela foi assim de repente?
                Durval baixou a cabeça e respirou fundo. Depois de um momento, a empregada perguntou:
               — Quer que eu ligue para alguém?
               — Não. Me deixe pensar um pouco.
                Joana saiu da sala.
                Durval fechou os olhos. Não sabia o que fazer. Estava completamente desnorteado. Ligar para a polícia de novo? Haviam dito que o delegado Moreira tinha sido assassinado naquela tarde. O que diabos estava acontecendo na cidade? Quem seria o responsável por tudo aquilo? Já eram duas mortes e uma tentativa de homicídio, a dele próprio, quando o assassino o empurrou da ribanceira dentro do carro. E agora, ainda por cima, Dolores estava desaparecida. Teria sido sequestrada? Olhou para o relógio de parede. Quase oito e meia da noite.
                Durval procurou a bengala em volta do sofá, mais uma vez ela não estava por perto. Resolveu levantar-se assim mesmo. O pedaço de madeira encurvado na ponta nunca estava lá quando precisava dele. Ao diabo com a bengala. Com esforço levantou-se e foi até a escrivaninha. Puxou a cadeira e sentou-se com cuidado procurando manter a perna engessada de lado. Bufou cansado. Puxou o telefone para perto, mas antes que pudesse tirar o fone do gancho, ele tocou. Durval levou um susto e estremeceu.
Lentamente pegou o fone e levou ao ouvido. Ouviu a voz rouca:
               — Aqui é o Botelho. Preciso falar com você. Estou indo aí.
 
 
CONTINUA…

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